Lembro-me, com a nitidez de apenas um dia passado, de quando descobri e acabei romantizando a prostituição.
Lembro-me do cheiro e da atmosfera densa do puteiro e do rosto de alguns notívagos mal-encarados freqüentadores.
As moças inocentes e, ao mesmo tempo, tão cientes do que faziam. Demonstrando prazer e culpa – se esta existia – em gemidos e contorções. E a minha falta de culpa ao voltar pra casa e dividir a cama com a mulher.
Com as moças sim, dava-me ao libertino clichê de acender cigarros após o ato sem o medo da repreensão por feder o quarto.
Como as amo!
Putas batalhando o sexo do dia pelo almoço do seguinte. Impecáveis atrizes do coito. Seres que me são os mais íntimos de minha vida e que os conheço a não mais que minutos.
Lembro-me de tudo.
Ferem-me as costas, me insultam. Eu – que, recluso em meu orgulho, não aceitaria isto de ninguém – ainda as amo. Amo-as e ainda sim conseguem me fazer ver que o que fazem com outros não é mais que mero trabalho. Assim, não me dou a ciúmes.
Pedem-me que as maltratem. Receio, mas o faço.
A entrega.
O contato.
Depois me enojo.
Mas no outro dia volto.
sexta-feira, 18 de junho de 2010
terça-feira, 9 de fevereiro de 2010
Tende Piedade
Durante uma aula:
_Você aí! É! Você! Saberia dizer que pessoa disse a seguinte frase: “Que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei”?
_Huuummm... Suponho que não.
_ Não?! Uma dica: ele foi morto.
_Hummm...
_Possui uma quantidade gigantesca de seguidores no mundo inteiro...
_Não... ainda não sei...
_Não acredito! Ele é, até hoje, cultuado nos quatro cantos da terra! Fazem cânticos, homenagens... e não é raro ver uma imagem sua em paredes de tudo quanto é lugar!
(Sem resposta)
_ A última dica: tinha cabelo grande!
_Aaaaaahhhhh, bom! Nossa! Quanta burrice! Como não acertei isto antes?! Que vergonha!
_Até que enfim, hein?!
_Pois é! E eu sempre falei: Esse John Lennon é foda!
_Você aí! É! Você! Saberia dizer que pessoa disse a seguinte frase: “Que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei”?
_Huuummm... Suponho que não.
_ Não?! Uma dica: ele foi morto.
_Hummm...
_Possui uma quantidade gigantesca de seguidores no mundo inteiro...
_Não... ainda não sei...
_Não acredito! Ele é, até hoje, cultuado nos quatro cantos da terra! Fazem cânticos, homenagens... e não é raro ver uma imagem sua em paredes de tudo quanto é lugar!
(Sem resposta)
_ A última dica: tinha cabelo grande!
_Aaaaaahhhhh, bom! Nossa! Quanta burrice! Como não acertei isto antes?! Que vergonha!
_Até que enfim, hein?!
_Pois é! E eu sempre falei: Esse John Lennon é foda!
quinta-feira, 5 de novembro de 2009
Guerra de Palhaços
Oito horas da manhã.
Faces e respectivos curiosos olhares ocupavam as janelas. A pouco movimentada cidade, atipicamente, fervilhava.
Irrompia o lugarejo a pequena colorida trupe e toda a tranqueira do rôto circo Lona Furada, com caminhões velhos e jaulas descoradas que a muito custo contiam o magérrimo elefante, um velho tigre-de-bengala (que por muito pouco não seria “tigre-de-cadeira-de-rodas”), três cavalos com sua populosa carrapataria.
Aquela alegria!
O pouco famigerado circo com seus poucos e muito famintos palhaços desfilava pela cidade.
Ninguém imaginava era que, naquele dia, naquela hora, cometas, estrelas, planetas e satélites, em sua elíptica dança cósmica, se agrupariam de tal forma a ocasionar inacreditável coincidência.
Hei-la: um outro circo, o Mastro Quebrado, chegava por outra entrada da cidade.
Não melhor que o Lona Furada, o circo Mastro Quebrado também vinha com seus mal alimentados palhaços e mal tratados animais. Inclusive um equino monocromático que, de perto, notava-se que não era zebra porcaria nehuma. Não passava, na verdade, de um cavalo amarelo que, de tão velho, ficara branco e apenas haviam lhe pintado as listras.
Uma “recoincidência”. De maneira perfeitamente simétrica os dois circos chegaram ao estenso e plano gramado do centro da micrópole. Lugar melhor para armar o picadeiro não se encontraria.
Resultado: confusão.
Nenhum dos dois lados se mostrou disposto a ceder. Irredutíveis, ali permaneceram até o cair da noite e, da noite, até o primeiro raio de sol surgir. E já pela manhã a alteração dos ânimos era geral e claramente perceptível.
Um dos integrantes da trupe do Mastro Quebrado, que naquela hora usava uma roupa de palhaço, peruca de palhaço, maquiagem de palhaço, sapatos e nariz de palhaço, se ofendeu porque outra pessoa do circo Lona furada, trajada da mesma forma, o chamou de... palhaço.
Não bastou mais que este desentendimento para que o estopim de nossos caros amigos circences se queimasse.
Desencadeou-se assim a lamentável sucessão de hostilidades que a população, o respeitável público, assistiu boquiaberta.
Um pequeno palhaço escondeu-se atrás da roda de um caminhão e atingiu outro com um certeiro tiro de pistola d’água. O engolidor de facas, que tentava sair sem ser percebido foi alvejado por um punhado de confete e veio por terra, enquanto um palhaço sorrateiro de ótima pontaria puxou o gatilho do revólver que empunhava e fez com que se disparasse uma bandeirinha de “Bang!” em direção ao palhaço que esquichava água a torto e a direito com a flor de sua lapela.
A trágica algazarra prolongou-se tarde afora até que, exaustos, cada qual com seu circo deixou a cidade.
Ao fim, o gramado ficou repleto de tinta, confete e narizes vermelhos. Todos animais fugiram, com excessão do tigre que, ao sair apressado, esqueceu-se da bengala e foi recapiturado mancando pelas redondesas.
Quanto às perdas humanas, todos que aquilo presenciaram... morreram de rir.
Faces e respectivos curiosos olhares ocupavam as janelas. A pouco movimentada cidade, atipicamente, fervilhava.
Irrompia o lugarejo a pequena colorida trupe e toda a tranqueira do rôto circo Lona Furada, com caminhões velhos e jaulas descoradas que a muito custo contiam o magérrimo elefante, um velho tigre-de-bengala (que por muito pouco não seria “tigre-de-cadeira-de-rodas”), três cavalos com sua populosa carrapataria.
Aquela alegria!
O pouco famigerado circo com seus poucos e muito famintos palhaços desfilava pela cidade.
Ninguém imaginava era que, naquele dia, naquela hora, cometas, estrelas, planetas e satélites, em sua elíptica dança cósmica, se agrupariam de tal forma a ocasionar inacreditável coincidência.
Hei-la: um outro circo, o Mastro Quebrado, chegava por outra entrada da cidade.
Não melhor que o Lona Furada, o circo Mastro Quebrado também vinha com seus mal alimentados palhaços e mal tratados animais. Inclusive um equino monocromático que, de perto, notava-se que não era zebra porcaria nehuma. Não passava, na verdade, de um cavalo amarelo que, de tão velho, ficara branco e apenas haviam lhe pintado as listras.
Uma “recoincidência”. De maneira perfeitamente simétrica os dois circos chegaram ao estenso e plano gramado do centro da micrópole. Lugar melhor para armar o picadeiro não se encontraria.
Resultado: confusão.
Nenhum dos dois lados se mostrou disposto a ceder. Irredutíveis, ali permaneceram até o cair da noite e, da noite, até o primeiro raio de sol surgir. E já pela manhã a alteração dos ânimos era geral e claramente perceptível.
Um dos integrantes da trupe do Mastro Quebrado, que naquela hora usava uma roupa de palhaço, peruca de palhaço, maquiagem de palhaço, sapatos e nariz de palhaço, se ofendeu porque outra pessoa do circo Lona furada, trajada da mesma forma, o chamou de... palhaço.
Não bastou mais que este desentendimento para que o estopim de nossos caros amigos circences se queimasse.
Desencadeou-se assim a lamentável sucessão de hostilidades que a população, o respeitável público, assistiu boquiaberta.
Um pequeno palhaço escondeu-se atrás da roda de um caminhão e atingiu outro com um certeiro tiro de pistola d’água. O engolidor de facas, que tentava sair sem ser percebido foi alvejado por um punhado de confete e veio por terra, enquanto um palhaço sorrateiro de ótima pontaria puxou o gatilho do revólver que empunhava e fez com que se disparasse uma bandeirinha de “Bang!” em direção ao palhaço que esquichava água a torto e a direito com a flor de sua lapela.
A trágica algazarra prolongou-se tarde afora até que, exaustos, cada qual com seu circo deixou a cidade.
Ao fim, o gramado ficou repleto de tinta, confete e narizes vermelhos. Todos animais fugiram, com excessão do tigre que, ao sair apressado, esqueceu-se da bengala e foi recapiturado mancando pelas redondesas.
Quanto às perdas humanas, todos que aquilo presenciaram... morreram de rir.
terça-feira, 3 de novembro de 2009
Falo da Igreja
E se deu o que lhes será narrado.
Estava lá. A imagem. Na porta da igreja. De formas não muito bem definidas, mas perfeitamente sugestiva.
O grupinho de curiosos e beatas parado em frente à porta se ocupava a relatar, ainda à distância, o ocorrido aos demais que ali passavam e se forçavam a obter a confirmação ocular do fato. O que fez se acrescentar ao grupo primário o subgrupo dos céticos. E o bêbado! Nas cidades pequenas, em tudo quanto é confusão, há um coadjuvante bêbado metido. Ele e seu infindável repertório de impropérios.
Enfim: sucedeu-se que haviam desenhado um pinto na porta da igreja. Sim! Um pau. Sem eufemismos.
Jazia lá, oblonga e ereta, a fálica obra de arte rascunhada na porta da casa do Senhor. Que, a esta altura, tornara-se, quase que literalmente, a tão mencionada “casa do caralho”.
Até foto tiraram da polêmica obra “sacro-erótica” saída sabe-se lá da cabeça de quem.
_Heresia!
_Isso é coisa do filho da dona Das Graças! Aquele menino é a pessoa em forma de capeta.
Indignação e suposições não faltavam. Tempo é que praticamente não restava mais. A domingueira missa matutina estava pra começar.
Com escova e sabão rapidamente removeram o... a coisa, que constatou-se, fora feita com carvão.
E como se os tumultos até aquele momento não fossem suficientes, inconvenientemente relataram o caso ao padre bem no meio da missa. Demonstrou algum constrangimento, mas não rendeu assunto. Certamente a fim de abrandar o pouco que sobrava da caótica manhã.
Deu-se prosseguimento.
Após rezas e cantos, ajoelhem-se e todos de pé, o padre, metodicamente comungava seus fiéis. E colocava em suas bocas, uma a uma, hóstias marcadas com sua digital preta.
Estava lá. A imagem. Na porta da igreja. De formas não muito bem definidas, mas perfeitamente sugestiva.
O grupinho de curiosos e beatas parado em frente à porta se ocupava a relatar, ainda à distância, o ocorrido aos demais que ali passavam e se forçavam a obter a confirmação ocular do fato. O que fez se acrescentar ao grupo primário o subgrupo dos céticos. E o bêbado! Nas cidades pequenas, em tudo quanto é confusão, há um coadjuvante bêbado metido. Ele e seu infindável repertório de impropérios.
Enfim: sucedeu-se que haviam desenhado um pinto na porta da igreja. Sim! Um pau. Sem eufemismos.
Jazia lá, oblonga e ereta, a fálica obra de arte rascunhada na porta da casa do Senhor. Que, a esta altura, tornara-se, quase que literalmente, a tão mencionada “casa do caralho”.
Até foto tiraram da polêmica obra “sacro-erótica” saída sabe-se lá da cabeça de quem.
_Heresia!
_Isso é coisa do filho da dona Das Graças! Aquele menino é a pessoa em forma de capeta.
Indignação e suposições não faltavam. Tempo é que praticamente não restava mais. A domingueira missa matutina estava pra começar.
Com escova e sabão rapidamente removeram o... a coisa, que constatou-se, fora feita com carvão.
E como se os tumultos até aquele momento não fossem suficientes, inconvenientemente relataram o caso ao padre bem no meio da missa. Demonstrou algum constrangimento, mas não rendeu assunto. Certamente a fim de abrandar o pouco que sobrava da caótica manhã.
Deu-se prosseguimento.
Após rezas e cantos, ajoelhem-se e todos de pé, o padre, metodicamente comungava seus fiéis. E colocava em suas bocas, uma a uma, hóstias marcadas com sua digital preta.
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