Oito horas da manhã.
Faces e respectivos curiosos olhares ocupavam as janelas. A pouco movimentada cidade, atipicamente, fervilhava.
Irrompia o lugarejo a pequena colorida trupe e toda a tranqueira do rôto circo Lona Furada, com caminhões velhos e jaulas descoradas que a muito custo contiam o magérrimo elefante, um velho tigre-de-bengala (que por muito pouco não seria “tigre-de-cadeira-de-rodas”), três cavalos com sua populosa carrapataria.
Aquela alegria!
O pouco famigerado circo com seus poucos e muito famintos palhaços desfilava pela cidade.
Ninguém imaginava era que, naquele dia, naquela hora, cometas, estrelas, planetas e satélites, em sua elíptica dança cósmica, se agrupariam de tal forma a ocasionar inacreditável coincidência.
Hei-la: um outro circo, o Mastro Quebrado, chegava por outra entrada da cidade.
Não melhor que o Lona Furada, o circo Mastro Quebrado também vinha com seus mal alimentados palhaços e mal tratados animais. Inclusive um equino monocromático que, de perto, notava-se que não era zebra porcaria nehuma. Não passava, na verdade, de um cavalo amarelo que, de tão velho, ficara branco e apenas haviam lhe pintado as listras.
Uma “recoincidência”. De maneira perfeitamente simétrica os dois circos chegaram ao estenso e plano gramado do centro da micrópole. Lugar melhor para armar o picadeiro não se encontraria.
Resultado: confusão.
Nenhum dos dois lados se mostrou disposto a ceder. Irredutíveis, ali permaneceram até o cair da noite e, da noite, até o primeiro raio de sol surgir. E já pela manhã a alteração dos ânimos era geral e claramente perceptível.
Um dos integrantes da trupe do Mastro Quebrado, que naquela hora usava uma roupa de palhaço, peruca de palhaço, maquiagem de palhaço, sapatos e nariz de palhaço, se ofendeu porque outra pessoa do circo Lona furada, trajada da mesma forma, o chamou de... palhaço.
Não bastou mais que este desentendimento para que o estopim de nossos caros amigos circences se queimasse.
Desencadeou-se assim a lamentável sucessão de hostilidades que a população, o respeitável público, assistiu boquiaberta.
Um pequeno palhaço escondeu-se atrás da roda de um caminhão e atingiu outro com um certeiro tiro de pistola d’água. O engolidor de facas, que tentava sair sem ser percebido foi alvejado por um punhado de confete e veio por terra, enquanto um palhaço sorrateiro de ótima pontaria puxou o gatilho do revólver que empunhava e fez com que se disparasse uma bandeirinha de “Bang!” em direção ao palhaço que esquichava água a torto e a direito com a flor de sua lapela.
A trágica algazarra prolongou-se tarde afora até que, exaustos, cada qual com seu circo deixou a cidade.
Ao fim, o gramado ficou repleto de tinta, confete e narizes vermelhos. Todos animais fugiram, com excessão do tigre que, ao sair apressado, esqueceu-se da bengala e foi recapiturado mancando pelas redondesas.
Quanto às perdas humanas, todos que aquilo presenciaram... morreram de rir.
quinta-feira, 5 de novembro de 2009
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Oi "Fítor",
ResponderExcluirMuito legal sua história... quem dera que todas as guerras fossem assim...
Beijinho.
Quando leio esta história me dá uma vontade de assistir o filme " Os saltimbancos Trapalhões com aquela trilha do Chico.
ResponderExcluirMandou bem meu camarada. Inveja toda minha!!!
gostei do final, como deveria ser...
ResponderExcluirAliás o inicio, e o meio foram caminhando para um fim ja esperado por mim.
Amei Vítor. Consegui voltar no tempo e lembrar cenas já vividas.
ResponderExcluirOASIOASIOAISOAI Cara briga de palhaço eh TENSO! tenebroso segundo efigênia =DD :*
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