quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Guerra de Palhaços

Oito horas da manhã.

Faces e respectivos curiosos olhares ocupavam as janelas. A pouco movimentada cidade, atipicamente, fervilhava.

Irrompia o lugarejo a pequena colorida trupe e toda a tranqueira do rôto circo Lona Furada, com caminhões velhos e jaulas descoradas que a muito custo contiam o magérrimo elefante, um velho tigre-de-bengala (que por muito pouco não seria “tigre-de-cadeira-de-rodas”), três cavalos com sua populosa carrapataria.

Aquela alegria!

O pouco famigerado circo com seus poucos e muito famintos palhaços desfilava pela cidade.

Ninguém imaginava era que, naquele dia, naquela hora, cometas, estrelas, planetas e satélites, em sua elíptica dança cósmica, se agrupariam de tal forma a ocasionar inacreditável coincidência.

Hei-la: um outro circo, o Mastro Quebrado, chegava por outra entrada da cidade.

Não melhor que o Lona Furada, o circo Mastro Quebrado também vinha com seus mal alimentados palhaços e mal tratados animais. Inclusive um equino monocromático que, de perto, notava-se que não era zebra porcaria nehuma. Não passava, na verdade, de um cavalo amarelo que, de tão velho, ficara branco e apenas haviam lhe pintado as listras.

Uma “recoincidência”. De maneira perfeitamente simétrica os dois circos chegaram ao estenso e plano gramado do centro da micrópole. Lugar melhor para armar o picadeiro não se encontraria.

Resultado: confusão.

Nenhum dos dois lados se mostrou disposto a ceder. Irredutíveis, ali permaneceram até o cair da noite e, da noite, até o primeiro raio de sol surgir. E já pela manhã a alteração dos ânimos era geral e claramente perceptível.

Um dos integrantes da trupe do Mastro Quebrado, que naquela hora usava uma roupa de palhaço, peruca de palhaço, maquiagem de palhaço, sapatos e nariz de palhaço, se ofendeu porque outra pessoa do circo Lona furada, trajada da mesma forma, o chamou de... palhaço.

Não bastou mais que este desentendimento para que o estopim de nossos caros amigos circences se queimasse.

Desencadeou-se assim a lamentável sucessão de hostilidades que a população, o respeitável público, assistiu boquiaberta.

Um pequeno palhaço escondeu-se atrás da roda de um caminhão e atingiu outro com um certeiro tiro de pistola d’água. O engolidor de facas, que tentava sair sem ser percebido foi alvejado por um punhado de confete e veio por terra, enquanto um palhaço sorrateiro de ótima pontaria puxou o gatilho do revólver que empunhava e fez com que se disparasse uma bandeirinha de “Bang!” em direção ao palhaço que esquichava água a torto e a direito com a flor de sua lapela.

A trágica algazarra prolongou-se tarde afora até que, exaustos, cada qual com seu circo deixou a cidade.

Ao fim, o gramado ficou repleto de tinta, confete e narizes vermelhos. Todos animais fugiram, com excessão do tigre que, ao sair apressado, esqueceu-se da bengala e foi recapiturado mancando pelas redondesas.

Quanto às perdas humanas, todos que aquilo presenciaram... morreram de rir.

5 comentários:

  1. Oi "Fítor",
    Muito legal sua história... quem dera que todas as guerras fossem assim...

    Beijinho.

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  2. Quando leio esta história me dá uma vontade de assistir o filme " Os saltimbancos Trapalhões com aquela trilha do Chico.
    Mandou bem meu camarada. Inveja toda minha!!!

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  3. gostei do final, como deveria ser...
    Aliás o inicio, e o meio foram caminhando para um fim ja esperado por mim.

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  4. Amei Vítor. Consegui voltar no tempo e lembrar cenas já vividas.

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  5. OASIOASIOAISOAI Cara briga de palhaço eh TENSO! tenebroso segundo efigênia =DD :*

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